segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma garrafa de Rum.



R. já bebia há anos. Teve problemas durante toda sua vida e resolveu transformá-los em uma coisa só: A dependência do álcool.
Solteiro, vivia só com sua única filha, vinda de um casamento mal sucedido graças aos vícios. A filha, com todo o amor que só um filho tem por um pai, tentava ajudar. Tentou conversas que não funcionaram, tentou o AA que não ajudou, assim como as centenas de psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas e todos os outros psicos que podem existir no mundo. Como ajudar alguém que não quer se ajudar e que sequer acredita precisar de ajuda?
Em uma cartada desesperada, colocou veneno na garrafa de Rum e esperou. Ouviu o cambalear de R., que voltando de mais uma noitada foi direto para a geladeira buscar a única coisa que parecia completá-lo. Em dois goles estava feito.
Alguns dias, os jornais sensacionalistas anunciavam: “Garota mata o pai alcoólatra com Rum envenenado”.
Irônico pensar que a filha só fez o que R. queria há muito, mas esqueceu do básico: Um alcoólatra nunca se destrói sozinho.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O mendigo e a sprite



O sol ardia no céu, e o típico calor de verão já atingia 32°C. Parado na porta de uma padaria de classe média alta, o mendigo esperava com duas notas na mão, segurando um valor equivalente a R$ 4,00. Sem ousar colocar os pés lá dentro, ficava olhando fixamente para um ponto no interior do estabelecimento. Quando o garçom se aproximou carrancudo, pronto perguntar o que ele tanto olhava e depois enxotá-lo da porta, o mendigo lançou com uma delicadeza tremenda a frase que comoveu os clientes que ouviram:
- Moço, me vê uma sprite, daquelas bem geladas? Tá um calor né?
O garçom com um coração tão frio que poderia transformar aquele dia calorento no pólo norte, saiu andando e fingindo que o mendigo não existia, ignorando completamente o pedido do pobre coitado, que ficou parado na porta, sedento por uma sprite que ele poderia pagar. Observando essa cena de longe, senti uma pontada na consciência e, tomando as dores do mendigo, comentei a situação com o meu pai, que soltou uma frase irônica:
- É, vai ver que o dinheiro dele não vale nada...
E ficamos divagando sobre a falta de compaixão nas pessoas, que conseguem ignorar coisas tão sutis e significativas. Quando o garçom negou uma sprite para o mendigo, negou toda a humanidade que existia nele, tratando um outro ser como se esse não sentisse as mesmas coisas que os outros clientes da padaria. Pouco importava as notas na mão dele e o fato de que, como todos os outros, ele pudesse pagar por uma coisa tão simples como uma sprite. Mas importava o fato de ele não estar vestido como os outros, não ter uma casa como os outros e nada especial para entrar em uma padaria sem receber olhares tortos de julgamento.
Chamei a garçonete e, antes de sair e pagar a conta, fui junto com outra moça que se interessou pela situação, perguntar para o mendigo se poderíamos fazer alguma coisa por ele, que nos entregou o dinheiro e pediu uma sprite. Quando pegamos uma sprite (das grandes, que inteiramos com nossas moedas) e fomos levar pra ele, o homem disparou:
- Sabe, hoje o sol está tão bonito, que resolvi comprar uma sprite para comemorar. Obrigada por ajudarem. Tá calor né?
Saí de lá com lágrimas nos olhos. O mundo pode ser cheio de frieza, mas sempre tem alguém pra lembrar que o sol brilha pra todos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A arte de fazer escolhas.



Não tenho o costume de classificar as pessoas e sempre achei uma coisa meio estranha colocar rótulos nos outros. Todos são seres diferentes entre si, mas existe uma coisa que todos têm em comum: A aptidão para fazer escolhas.
Existem dois caminhos fatalmente diferentes que as pessoas podem escolher, e que sempre conduzem a vários outros: o bom e o ruim.
Poucas pessoas conhecem o jeito certo de levar a vida e isso surge com o tempo e as experiências, mas fazer boas escolhas é uma arte.
As escolhas boas dependem das ruins e vice-versa. Ninguém nasce aprendendo a tomar decisões, quem dirá as corretas e precisamos errar muito para fazer escolhas certas. Mas como ponderar sobre a melhor escolha e analisar os sinais nem sempre óbvios? E como saber se nossa boa escolha é boa para os outros?
A primeira coisa que precisamos pensar é que as escolhas são SEMPRE e somente nossas, nunca dos outros. Não podemos culpar os outros pelas nossas más escolhas, assim como não podemos esperar que nossas escolhas não afetem a vida de outros.
Escolher fumar um cigarro pode ser uma escolha boa para ajudar idéias fluírem, para relaxar, mas não é uma boa escolha a longo prazo para nossa saúde. Escolher casar com alguém pode ser uma boa escolha se pensado previamente, mas pode ser uma má escolha se nem conhecemos direito com quem vamos nos casar.
A escolha só depende de quem faz, que deve pensar não só em si, mas em como elas vão afetar os outros e lembrar sempre do que ninguém vê. É como pintar um quadro... precisamos escolher se vamos usar tinta a óleo ou aquarela, o tipo de pincel adequado para dar os detalhes que só vão ser percebidos pelo olhar mais atencioso e preparado, se vamos pintar em um painel ou uma tela e se for em tela, escolher as dimensões mais adequadas.
Assim como um quadro registra um momento histórico e pessoal, nossas escolhas afetam a maneira como construímos a nossa história e vida, e como vamos marcar os outros com a nossa arte, seja ela boa ou ruim.
E você, já fez sua escolha hoje?