quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O mendigo e a sprite



O sol ardia no céu, e o típico calor de verão já atingia 32°C. Parado na porta de uma padaria de classe média alta, o mendigo esperava com duas notas na mão, segurando um valor equivalente a R$ 4,00. Sem ousar colocar os pés lá dentro, ficava olhando fixamente para um ponto no interior do estabelecimento. Quando o garçom se aproximou carrancudo, pronto perguntar o que ele tanto olhava e depois enxotá-lo da porta, o mendigo lançou com uma delicadeza tremenda a frase que comoveu os clientes que ouviram:
- Moço, me vê uma sprite, daquelas bem geladas? Tá um calor né?
O garçom com um coração tão frio que poderia transformar aquele dia calorento no pólo norte, saiu andando e fingindo que o mendigo não existia, ignorando completamente o pedido do pobre coitado, que ficou parado na porta, sedento por uma sprite que ele poderia pagar. Observando essa cena de longe, senti uma pontada na consciência e, tomando as dores do mendigo, comentei a situação com o meu pai, que soltou uma frase irônica:
- É, vai ver que o dinheiro dele não vale nada...
E ficamos divagando sobre a falta de compaixão nas pessoas, que conseguem ignorar coisas tão sutis e significativas. Quando o garçom negou uma sprite para o mendigo, negou toda a humanidade que existia nele, tratando um outro ser como se esse não sentisse as mesmas coisas que os outros clientes da padaria. Pouco importava as notas na mão dele e o fato de que, como todos os outros, ele pudesse pagar por uma coisa tão simples como uma sprite. Mas importava o fato de ele não estar vestido como os outros, não ter uma casa como os outros e nada especial para entrar em uma padaria sem receber olhares tortos de julgamento.
Chamei a garçonete e, antes de sair e pagar a conta, fui junto com outra moça que se interessou pela situação, perguntar para o mendigo se poderíamos fazer alguma coisa por ele, que nos entregou o dinheiro e pediu uma sprite. Quando pegamos uma sprite (das grandes, que inteiramos com nossas moedas) e fomos levar pra ele, o homem disparou:
- Sabe, hoje o sol está tão bonito, que resolvi comprar uma sprite para comemorar. Obrigada por ajudarem. Tá calor né?
Saí de lá com lágrimas nos olhos. O mundo pode ser cheio de frieza, mas sempre tem alguém pra lembrar que o sol brilha pra todos.

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